segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

"Mal de Amor", de Anna Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça

Toda pena de amor, por mais que doa,
no próprio amor encontra recompensa.
As lágrimas que causa a indiferença,
seca-as depressa uma palavra boa.

A mão que fere, o ferro que agrilhoa,
obstáculos não são que amor não vença.
Amor transforma em luz a treva densa.
Por um sorriso amor tudo perdoa.

Ai de quem muito amar não sendo amado,
e depois de sofrer tanta amargura,
pela mão que o feriu não for curado.

Noutra parte há de em vão buscar ventura.
Fica-lhe o coração despedaçado,
que o mal de amor só nesse amor tem cura.


(1896)

terça-feira, 26 de abril de 2016

"Fica, minha choça, onde habita gente", de Tao Yuanming

Fica, minha choça, onde habita gente, Mas perto de mim não fazem barulho cavalo e carroça. Saberias como isso é possível? Um coração distante cria ermo para se cercar. Pego crisântemos sob a sebe a leste, Então olho ao longo para as colinas veranis ao longe. O ar da montanha é fresco quando o dia anoitece: Voltam, dois a dois, os pássaros voando. Nessas coisas reside um sentido profundo; Mas quando o expressássemos, as palavras falhar-nos-iam. ~Tao Yuanming (365–427) "My hut in a zone of human habitation, Yet near me there sounds no noise of horse or coach. Would you know how that is possible? A heart that is distant creates a wilderness round it. I pluck chrysanthemums under the eastern hedge, Then gaze long at the distant summer hills. The mountain air is fresh at the dusk of day: The flying birds two by two return. In these things there lies a deep meaning; Yet when we would express it, words suddenly fail us." (Traduzido por Arthur Waley, 1919)