sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

"Mal de Amor", de Anna Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça

Toda pena de amor, por mais que doa,
no próprio amor encontra recompensa.
As lágrimas que causa a indiferença,
seca-as depressa uma palavra boa.

A mão que fere, o ferro que agrilhoa,
obstáculos não são que amor não vença.
Amor transforma em luz a treva densa.
Por um sorriso amor tudo perdoa.

Ai de quem muito amar não sendo amado,
e depois de sofrer tanta amargura,
pela mão que o feriu não for curado.

Noutra parte há de em vão buscar ventura.
Fica-lhe o coração despedaçado,
que o mal de amor só nesse amor tem cura.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

"A Coffin is a small Domain", de Emily Dickinson

Hoje, 10 de Dezembro, mas em 1830, nascia Emily Dickinson, que para quem me conhece um tanto já deve saber quem quem ela é.
Digo "quem ela é" e não "quem ela foi", porque quem é lembrado não morre a última morte. Seu corpo já se foi, mas seu nome e seu trabalho ainda estão vivos.
Ela escreveu na paz tumultuada de sua solidão preferida sobre morte e imortalidade, mas em raros momentos de maneira sombria ou melancólica. Ao contrário - a certeza da morte e a promessa de uma vida para a alma a motivavam a escrever sobre aquelas pequenas alegrias que inundam o dia e que, se pudéssemos tão facilmente perceber, nos paralisariam por causar perplexidade. A abelha, uma flor, uma flecha, a visita de um mercador, um sonho estranho, um anel... O que passa batido para uns foi imortalizado por ela em alguns versos escritos além das regras da língua inglesa e sob o uso indomável de seus travessões. E ela também falava desses pensamentos insuspeitos que nos ocorrem quando a mente arranja um tempo livre, não importa com o que estivermos nos ocupando. Como seria a vida no Brasil, como é tentar lembrar um sentimento que já se esqueceu, o que representa encarar os próprios medos, ou o que um balão espera de sua passagem pelo mundo.
Viveu, escreveu, foi assaltada por tristezas com as mortes de entes queridos e amigos que vieram tão rápidas uma após a outra. Mas, como essas linhas exibidas querem fazer mostrar, através de mim e das minhas palavras metidas, assim como através de outros tantos, ela continuará vivendo.



A Coffin—is a small Domain,
Yet able to contain
A Citizen of Paradise
In it diminished Plane.

A Grave—is a restricted Breadth—
Yet ampler than the Sun—
And all the Seas He populates
And Lands He looks upon

To Him who on its small Repose
Bestows a single Friend—
Circumference without Relief—
Or Estimate—or End—



Um caixão é reino pequenino,
Mas pode conter
Um Cidadão do Paraíso
No seu mundo diminuto.

Um túmulo é largura restrita
Mas é mais amplo que o Sol
E todos os mares que ele povoa
E as terras que ele vigia.

Para aquele que ao pequeno descanso
Confere um único amigo
Há circunferência sem remédio
Ou estimativa, ou fim.