quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Enquanto isso...



   Como se cruza a fronteira das coisas que não se deseja mais viver? Como se faz para ver a luz voltando se já são quarenta e oito horas só de noite? Como se faz para sentir vida, calor e esperança de novo?
   Talvez as respostas já estejam longe demais para serem encontradas. O tempo terá que trazê-las até mim.
   Meus passos não conseguem mais procurar.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Novelas

Faz frio na minha alma. Descobri que alma é como um campo. Crescem coisas, morrem coisas. Coisas florescem, coisas murcham.
E a alma não tem fim. É uma vastidão só. Uma terra fecunda ali, estéril acolá.
Tem castelos e tem pontes, tem fossos e tem ápices. Tem ideias, que são seus pássaros e suas árvores, e tem sonhos, que são seus ventos e a música que toca ao fundo.
Ali cavalga alguém - sozinho, senão pela companhia animal. Mas não é possível dizer que se trata de um homem e seu cavalo, procurando alguma coisa, alguém, alguma árvore, perseguindo algum vento que, ao fugir, puxa e empurra.
Não. É um cavalo e seu homem.
E o álcool, o carnaval nesse campo, diz que é um centauro.

Tão longe, a ninfa...


Crédito "The Lone Knight", Scott Black

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Humano

Inspirado no In Memoriam de Lord Alfred Tennyson (http://www.victorianweb.org/authors/tennyson/im/50.html)

Fique perto de mim quando falham as defesas do ser.
Fique perto de mim quando serena a noite vem e cai,
E abrigam-se nos meus poros violência e o desmerecer,
E toma-me de assalto o frio e a minha paz se esvai.

Fique perto de mim quando vêm meus fantasmas e me assombram,
E no meu pobre desatino a mente me é entreaberta,
Como se fossem os erros os meus simples passos que tombam,
E como se fosse acerto a voz fantasma que me aperta.

Fique perto de mim quando meus joelhos se espraiam no chão,
Quando eu falhar com minha força e se as minhas juras trair,
E de mim fique perto quando minha constância for em vão,
Quando, da minha fé descrente, minha sinceridade mentir.

Fique perto de mim, enfim, quando a vontade me for fraca,
E o sobrecenho na face denunciar meu corpo que treme,
Quando o medo, que devora, me assola como água que encharca,
Quando a dúvida que paira for como ofídio que me espreme.

Fique perto de mim, por fim, quando a esperança fraqueja,
Quando debulha-se a vela, quando se perde o sonho,
Ficando perto o alívio que aflição minha mais deseja:
Quando o meu rosto humano no teu humano colo eu ponho.

-- Ulian, 21/01/13

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Bow-sped Heart

My Heart was pierced by an arrow true.
Now the truth has changed,
the pierce I'm not so sure.

What once I had as dearest bliss
betrayed my chest, has changed -
Something of that arrow is now amiss.

-- Ulian, 16/01/13


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Desfaçatez
Desfaça a tez
de faca a tez

Nightbrought

My sorrow is a creature of the night
The morn sends to cave on my heart.
As soon as there's so sun abright,
It nightcreeps - to the outside.

My heart is nightbrought delirium.
Fathoms that mebind,
Quiet, my nightsent asylum:
Easier relief to find.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

One's soul can be one's cell.
The Parallel
The limits of the being,
Being firm.

One's voice can be one's doom.
And the Gloom
Benighted shore of mind,
The shadows bind.

One's words can be one's prison.
In unison
If their echo contains
The soul restrains.

One's love can be one's quest
The Interest
No rest for the heart -
seeking Art.

One's goings can be one's ends
And the blends.
Benighted shore of mind -
Being firm.

-- Ulian, 16/01/13

Bonds of Ink

Suddenly last week felt like last month.
The tracking of time I've lost (no news).
Time's passage is vain. Melancholy, strong.
'tis hard to tell myself what my heart feels:

It seems alight with joy, at times,
then at end of day it's but a blaze.
It's easier to feel blue reading the signs
Etched on the walls of everyday's maze.

I'm thriving so far on the joy-quest,
But life's glories with doubt are stained;
Trying to make today yeasterday's best,
Yet a sense of stillness my forces's drained;

Is it a recurring display of flaw?
Some returning self-banishing of me?
Even trying to make joy my new law,
The shadows of past I'm forced to see.

Though less than an ordeal it sounds,
The sadness persists too foul to ignore.
I've moved to meet joy at new grounds,
Aware of the seed of sorrow I bore.

Then of the paper I make my witness,
(From the faces the contriction I hide)
Estranged to the bitter on life's sweetness,
We commune sincerely. Side by side.

-- Ulian, 15/01/13

terça-feira, 15 de janeiro de 2013


The Sun kept setting—setting—still
No Hue of Afternoon—
Upon the Village I perceived
From House to House 'twas Noon—

The Dusk kept dropping—dropping—still
No Dew upon the Grass—
But only on my Forehead stopped—
And wandered in my Face—

My Feet kept drowsing—drowsing—still
My fingers were awake—
Yet why so little sound—Myself
Unto my Seeming—make?

How well I knew the Light before—
I could see it now—
'Tis Dying—I am doing—but
I'm not afraid to know—


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A piece of old yet immortal wisdom

10. A better burden | may no man bear
For wanderings wide than wisdom;
It is better than wealth | on unknown ways,
And in grief a refuge it gives.

10. Fardo melhor nenhum homem carregue
para suas andanças do que a sabedoria;
Ela é melhor que a riqueza nos caminhos desconhecidos,
E na dor um refúgio ela oferece.

-- Edda Poética, O Canto do Supremo (Hovamol)

-- Poetic Edda, Lay of the High One
http://www.sacred-texts.com/neu/poe/poe04.htm

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Carta do Cronista Ingrato

   A poucos olhos eu me dou o trabalho de parecer bem, e a menos olhos ainda efetivamente me preocupo em ser bom. Recentemente, essa audiência da qual eu me fazia cobrar diminuiu consideravelmente, mas não vejo aí uma chance de alívio e sim de mais preocupação.
   Oportunidades, se forem muitas, não as vejo, e por muitas vezes creio-me disposto a aceitar com pesar, e senão com porfia, as chances que me são dadas - porque espero, ao invés de ir buscar. É algo de minha natureza e, nesse momento tão difícil em que tento colocar minha vida no papel, só posso acreditar que se trata de um defeito até hoje incurável.
   Sinto muitos olhos me observando. Cobram-me silenciosamente. Seguem-me com expectativas mudas. Os olhares gritam muito mais alto quando mudas as bocas, ou quando a voz diverge para outras empresas.
   Algo de mim estiolou, não cresceu em meu pensamento, apenas estendeu-se. De algum modo nunca estou pronto para o combate, fico confinado no ato de confabular e imaginar - como, se vidente, o futuro eu pudesse ver, e como, se bruxo, esse futuro eu pudesse mudar.
   E essa parte de mim que não entendo é crucial. Falham-me as forças, falham-me as empresas. A mim somente eu culpo, creio que a mim sozinho a fortuna penaliza. O que há em mim de errado acho que não consigo nem aprender.
   Se eu precisava de provas, há muito já as tenho. Como é do feitio de muitos que escrevem sobre alheamento e desassossêgo, charneca e saudade e coisas mais, constato que eu também não funciono direito como ser humano.
   Minhas vontades são obsessões.
   Meus descuidos, fraquezas.
   Minhas paixões, exageros.
   Meu choro, verborragia.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

"Há perto de mim uma janela. Por mais que eu a abra, sempre encontro-a fechada."

Que parte de mim é tão eu que não posso deixar de ser?
É algo tão meu que não quero deixar de ter?
É a boca de Hati se aproximando cada vez mais de mim?
É a noite mais breve, vendo-se perto do fim?