quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Offense outlives the ofender,
in ashes gray does fire linger,
Life at last outlives the living,
Death is brim of soul, streaming.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

An apple a day keeps the poem away

Love -- here's the nourishment for a soul.
Yet the dew of good earth and simple meal
All fleshly prison must meet in bowl.
The odds of matter, this is the deal.

sábado, 19 de novembro de 2011

Grifos meus na obra bela de Florbela

Exaltação
Viver! Beber o vento e o sol! Erguer
Ao céu os corações a palpitar!
Deus fez os nossos braços pra prender,
E a boca fez-se sangue pra beijar!

A chama, sempre rubra, ao alto a arder!
Asas sempre perdidas a pairar!
Mais alto até estrelas desprender!
A glória! A fama! Orgulho de criar!

Da vida tenho o mel e tenho os travos
No lago dos meus olhos de violetas,
Nos meus beijos estáticos, pagãos!

Trago na boca o coração dos cravos!
Boêmios, vagabundos, e poetas,
Como eu sou vossa Irmã, ó meus Irmãos!


O Teu Segredo
O mundo diz-te alegre porque o riso
Desabrocha em tua boca, docemente

Como uma flor de luz! Meigo sorriso

Que na tua boca poisa alegremente!

Chama-te o mundo alegre. Ai, meu amor,
Só eu inda li bem nessa alegria!…
Também parece alegre a triste cor
Do sol, à tarde, ao despedir-se o dia!…

És triste; eu sei. Toda suavidade
Tão roxa, como é roxa uma saudade
É a tua alma, amor, cheia de mágoa.

Eu sei que és triste, sei. O meu olhar
Descobriu o segredo, que a cantar
Repoisa nos teus olhos rasos d’água!…


Fanatismo
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!

Não és sequer razão de meu viver,

Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

“Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”



Inconstância

Procurei o amor que me mentiu.
Pedi à Vida mais do que ela dava.

Eterna sonhadora edificava

Meu castelo de luz que me caiu!


Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!

Passei a vida a amar e a esquecer...

Um sol a apagar-se e outro a acender

Nas brumas dos atalhos por onde ando...


E este amor que assim me vai fugindo

É igual a outro amor que vai surgindo,

Que há de partir também... nem eu sei quando...



Charneca em Flor
Enche o meu peito, num encanto mago,
O frêmito das coisas dolorosas...

Sob as urzes queimadas nascem rosas...

Nos meus olhos as lágrimas apago...


Anseio!
Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas

Murmurar-me as palavras misteriosas

Que perturbam meu ser como um afago!


E nesta febre ansiosa que me invade,

Dispo a minha mortalha, o meu burel,

E, já não sou, Amor, Sóror Saudade...


Olhos a arder em êxtases de amor,

Boca a saber a sol, a fruto, a mel:

Sou a charneca rude a abrir em flor!




Florbela Espanca nasceu em Portugual, 1849, e suicidou-se no dia de seu aniversário, no ano de 1930.
"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesmo compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que se não sente bem onde está, que tem saudades... sei lá de quê!"

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Guardo minhas palavras no silêncio de um túmulo vazio:
Não temo a morte do corpo, que nunca morre, nem por onde envereda a alma, que sempre erra. Temo a morte do acreditar.

Guardo minhas palavras no silêncio da alcova abandonada.
Não falo não por não amar, mas por amar demais. Não chamo por não querer, só não ouso chamar. Não deixa-se a flor murchar em adoração ao Sol que a nutre e faz secar?

Guardo meu silêncio nas palavras de um feito cego.
Mal e mal observo, mal e mal troco olhares, pois aos fazê-lo estou cego, não sendo meu esses olhares e cego-me - dando a quem me olha os olhos meus.

Guardo meu silêncio nas palavras de um esquecido.
Pois como lembrar de algo que não é só meu? Terei morrido, ao ter entregue assim meu coração? Se sim, sorrio, pois ele segue a bater nas mãos que quero bem. Se não, sorrio, pois volta a bater nos braços que quero bem.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

The Last Poem of a Buddha's Friend

My chest was hurt by an arrow where an arrow hit me first. I'm glad I weep tears and bleed my blood, so as to never spill someone else's blood, so as to never salt my wounds.
Should I drown, I hope to drown on ink. And my words only have the right to run over me.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Para quando esquecemos

Não me lembro mais qual foi nosso começo.
Sei que não começamos pelo começo.
Já era amor antes de ser.

-- Clarice Lispector

domingo, 13 de novembro de 2011

A Cabeça (atualizada)

Tênue Inspiração a partir da encenação de "Mythistorema 3", de Giorgos Seferiades, recitada na "Alegoria" das Olimpíadas de 2004, em Atenas.

A Cabeça

I - Há um fardo que nascerá comigo

É involuntário. Quando acordo, olho para minha escrivaninha. Ela está lá, de olhos fechados. Ainda é de mármore, ainda é fria.

É uma cabeça, não tem expressão. Às vezes, não tem olhos nem lábios, é lisa e tem uma única protuberância (o nariz). Outras vezes é completa, é inteira, parece a cabeça de uma Deusa grega que dorme após matar as filhas de Niobe, e não sei de qual das duas formas tenho mais medo, da clássica ou da abstrata.

Eu tenho que levantar e carregá-la pelo resto do dia. Por onde quer que eu vá – trabalho, casa, rua, bar – ela está comigo. Eu carrego e a sinto pesada. Eu a levo e a sinto gelada. É um peso que carrego, sim, uma cabeça que não posso largar, uma cabeça que faz minha cabeça doer.

Quando vou dormir, não a vejo mais. Ela não está em minhas mãos. Ela sumiu. Juro pela última vez que não vou olhar para nada quando acordar.

Mas eu acordo.

Mas eu olho.

Ela está lá.

II - Para relembrar os que assassinados jazem
Sou um tolo.
Sou um tolo que se atém à pureza da forma. A beleza do mármore me é mais cara que a essência da forma talhada, mesmo sendo mais clara. O que mais amo, porém, é o ato de esculpir. A criação, o resgate do corpo atônito de dentro do mármore é que me excita conjecturas e conjugações, iludindo-me com o mero fato da pedra trabalhada, ou aplacado pela máscara significativa que a estátua coloca entre mim e ela. A estátua se esconde bem; faz-me ver o que não é através do que não sou. Meus olhos não a procuram. Mas sei do ato da criação, e ele é inviolável.

III - Uma visita à galeria das sabidas ignorâncias
Que importa aos olhos meus, tão leigos, a origem e qualidade da pedra, se tão fácil me acalma e desconcerta o descante da curva esculpida? Sejam nós chorosos de Lacoonte ou o silêncio triunfante de Perseu, sejam águas espraiadas pela Ondina que se levanta ou a tez marmórea de uma Vênus - dão-se, os escultores, ao trabalho de driblar meus sentidos que tão fácil já se fascinam, fascinando-me assim mil vezes mais. Ah, o cicládico já bastaria na intenção de me enganar.

IV - Um motivo vago e sua resposta abismada

Entremeios, com algum receio pergunto-me não ver maldade na sanha do escultor em talhar a pedra para transformá-la em algo familiar - e ao mesmo tempo despondente - aos olhos. É dicotômico, é perguntar se não seria mais justo, ainda que talvez menos arte, contentar-se com a pura e solene somente figura alégorica debilmente desnudada das asperezas e retas do bloco despercebido. A alegoria grita, pois desconstroi-se ao tentar fazer-se real, morre se tenta buscar a vida. Não morre o que nunca viveu. Uma mão boa (e, em minha pergunta, narcisista) salva-a da reta e angular perpetuidade. Dá-lhe deformidade, dá-lhe morte e dá-lhe razão, metamorfose da pedra em figura, do tema, na alegoria.

V - No momento do jejum, apenas uma luz acesa
Fazer fibrilar o ósseo tom da face no mármore... Há olhos querendo falar, uma boca querendo olhar e dois ouvidos tentando escutar. Há algo de errado em imitar sua postura imóvel? Fazer mímica do que é irreclinado? Vejo a alegoria empedrada encarando a quimera encarnada - ou será realmente o contrário? Posa para mim a estátua ou ela imita-me em minha admiração, conhecendo-nos assim pouco a pouco? Ela veio de sonhos, marmóreos relembrados, e eu vou aos sonhos, por pedras recebidos.

VI - Há um peso que carrego comigo

A estátua, enfim, talvez nasça do sonho de alguém que sem perceber deixa-se dormir e, inocentemente, esquece de voltar, para sempre buscando dentro de pétreos fetos aquela face sua, que se perdeu.

sábado, 12 de novembro de 2011

Naquele canto amassado da alcova

Há momentos em que só a chuva não basta para esfriar,
bem como há momentos em que o álcool só não basta para bestificar,
nem se negue que há momentos em que a música apenas não acalma,
assim como há momentos em que a presença e a ausência misturam-se e viram uma só.
Então, o que basta?

Há momentos em que só o sono é pouca fuga,
e há também momentos em que a tristeza e a alegria parecem confundir-se,
que não se esqueça que há momentos em que a agonia parece agradar
tanto quanto há momentos em que o deleite parece ferir.
Então, já basta.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Quadrinha do Jardineiro

Quis o amor que a planta pilhasse o ar, secasse o solo, calejasse a mão do plantador.
Quis o amor que a planta ferisse com espinho e estrangulasse com a vinha.
Quis o amor que a planta tomasse tempo.

Quiseram todos ver a flor.

sábado, 5 de novembro de 2011

Enquanto isso...

Hoje em dia digo que finalmente concordo com Emily. O amor é anterior ao tempo e sempre o ultrapassa.
Algumas horas de um dia ensolarado já fazem dias e dias escuros ficarem muito longe na lembrança. Algumas horas de amor parecem ao alcance do lembrar sem se esforçar, mesmo estando separadas do presente por dias inteiros. As últimas palavras sussurradas ao pé do ouvido ficam tão claras que não parece que todo o barulho do mundo passou pelas orelhas há tão pouco tempo.
Por isso arrisco dizer que entendo a Emily... O tempo deve tão pouco ao amor. O que é o tempo para o amor? Ah, tempo, levas pessoas, levas famílias inteiras, mas não podes mover um pouco que seja um sentimento. Mudam-se os sentimentos, mas não por tua força imponderável.
Lembrai, lembrai, o povo já fala: o tempo ri de nós, mas o amor ri do tempo.

"LOVE is anterior to life,
Posterior to death,
Initial of creation, and
The exponent of breath."
-- Emily Dickinson

E, sempre, para mim e para quem ama: Cada coisa ao seu tempo.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A Single Blade of Grass

A marsh, or a meadow, may be -
In a place where the sun shines
There no steps can be heard,
And witness of love´s passage
Is that but time itself,

And time, this fickle bird,
Flies so faster with love,
And love, this still wind,
Does make time´s wings
Move fast indeed.