sábado, 29 de outubro de 2011

Meditations

Though this world be rude, there is kindness in it;
- I remark your make-me-gasp embrace as a proof of this.

Though this world be hard, there is softness in it;
- You body in my arms I recall as a proof of this.

Though this world be tragic, there is beauty in it;
- I remember thy kiss, a sweet sting in my mouth.

Though this world be ruse, there is truth in it;
- Your words, I recall, despite all meanings were heard.

Though this world be mad, there is solace in it;
- Our two-blinds-idylls in land remind me of this.

Though this world be harsh, there is peace in it;
- Your face, your smile, your touch - they remind of this.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Snowhite Blooming

There's a fair-smelling rhyme
On this garden of prose;
Over her the sunray shines,
Over my snowhite rose!

The Sun her petals tickle,
Amidst shady thorn'n prickle...

There is a bog, once so green,
Now rancid as I've never seen:
O sweet smell-of-flower,
Undo the spin of the hour,

In this weeping alley here
You lovely voice fruits bear!

There's a foul-smelling air
full of descent, o sad despair,
make me be forervermore,
a peace state - no war, no more!

There's a fair-smelling rhyme
On this garden of prose!
No "air" no "light" no "brine" -
Only my snowhite rose!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Céu de Tempestade

Vejo um lago, tão escuro e turvo ele está! Não há ondas em sua superfície, mas agitam-se suas correntes abaixo como um tufão de negras lágrimas...
Ouço a ventania, como diria o poeta, ela ladra à rua como um cão! Não vejo folha ou página por ela desgarrada, mas movem-se mil almas e corações com sua pata soprada...
Sinto o frio, trama-se sobre meus pêlos e em meus ossos como o peso da idade! Não há Sol no céu nem luz de fogo, mas lá longe vejo algo a brilhar...
Toco o chão, está tão morto, duro e ressequido! Não sinto a vida chamando lá embaixo, mas uma semente chama a outra através da eternidade...

Há gritos. Há dor. Tormentos na tormenta.
Lá longe, dentro de minha cabeça, ouço alguém cantando.
Uma mulher.
E as nuvens,
negras.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Pena da pena?

O fantasma deu-te a pena.
Escreve.
O fantasma deu-te o livro.
Pena.
O fantasma deu-te a cisma.
Livra.
O fantasma diz-te escreve.
Cisma.

P.S.: Não chore, nem sorria. Não grite, sequer beije.
Escreva.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Singela

Se sou o mar impassível,
É porque tu és o vento que me move.
Se sou a grama que se dobra,
É porque tu és o vento, que me ouve.

Se sou uma sombra passageira,
É porque tu és a nuvem que me cobre.
Se sou um momento de suspiros,
É porque tu és a nuvem, que me guarda.

Se sou a árvore tão fundo enraizada,
É porque tu és a luz que me alimenta.
Se sou o gelo de banquisas liberto,
É porque tu és a luz que aquece.

Se sou uma canção demasiado singela,
É porque tu és a atenção que me ouve.
Se sou uma rima feita de soslaio,
É porque tu és a atenção que me compôs.

E se sou a imagem que persiste,
É porque tu és a alegria que me evoca.
E se sou a alegria assim evocada,
É porque tu és a imagem que persiste.
Renovada.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

::: Musa Impassível, Francisca Júlia

Quando o soneto foi publicado no jornal A Semana, houve grande polêmica, pois o crítico João Ribeiro não conseguia acreditar que uma mulher fosse a autora dos versos, que seguem:

Musa! um gesto sequer
de dor ou de sincero
Luto jamais te afeie
o cândido semblante!
Diante de Jó, conserva
o mesmo orgulho; e diante
De um morto, o mesmo
olhar e sobrecenho austero.

Em teus olhos não quero
a lágrima; não quero
Em tua boca o suave
e idílico descante.
Celebra ora um fantasma
anguiforme de Dante,
Ora o vulto marcial de
um guerreiro de Homero.

Dá-me o hemistíquio
d'ouro, a imagem atrativa;
A rima, cujo som, de uma
harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d'alma;
a estrofe limpa e viva;

Versos que lembrem,
com seus bárbaros ruídos,
Ora o áspero rumor de um
calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor
de mármores partidos.


Francisca Júlia foi a maior poetisa do Parnasianismo Brasileiro e nunca foi estudada com o destaque que merece. Seus amigos homegearam-na com um monumento em mármore a ser colocado em seu jazigo, e entitulou-se a escultura "Musa Impassível", atualmente guardada no acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Divagando

Agradeço a oportunidade de viver em um lugar sem muito concreto.
Hoje vi um par de andorinhas voando sabe a umidade para onde. Gosto de pensar que eram um casal.
Mas daí, acho errado querer invejar a união dele e dela. Que voem juntos para onde quiserem.
Dizem que as araras escolhem um parceiro para a vida inteira, e que se esse parceiro morre, a arara que vive jamais arranja outro, e há quem diga que algumas dessas aves selam-se em seus ninhos para morrer de fome ou jogam-se do alto das árvores. Não quero pesquisar para saber se é verdade ou não. A lenda já me basta.

Mas não quero falar de morte ou tragédia, para elas há outros momentos. Queria apenas falar de duas aves que voavam juntas, e da emoção que talvez sem saber despertaram em mim, e mesmo assim ouso dizer que não consigo negar-lhes parte na inveja.
Pois as invejo.
Consolo, há pouco. Está no que é pouco palpável e está mais longe de ser real do que a esperança.



Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais o que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois com ele tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semidéia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim com a alma minha se conforma,

Está no pensamento como idéia;
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.
--- Camões (Sonetos para amar o amor)

Pirapólogo - uma publicação cheia de segredos

Um texto sob encomenda!


"Pirapólogo"
Um dia, um prego apaixonou-se por um pedaço de tábua. Ah, como ele amava aquele pedaço tão distinto de madeira...
E veria o prego, em sua emoção ferrosamente exaltada, todos os buracos naquela tábua? Veria como havia ali o medo de cupins e as feridas deixadas pela umidade de Joinville?

E o prego queria tanto que dessa vez o martelo o entortasse sobre aquela tábua em específico! Queria tanto ver de perto as falhas da madeira, queria tanto poder adentrar naquele mar de celulose entristecida e enferrujar na sua carne lenhosa... e seca... e queria tanto ferir-se em suas farpas!

Mas o martelo ainda batia para desentortar o prego, sem nenhuma consideração por sua cabeça, sua ponta frágil e seus sentimentos mais atômicos. O pobre prego enferrujava sua tristeza ao passo que nenhuma pancada o aproximava da tábua tão querida, tão inerte naquela parede capenga. Onde estava aquela tábua mesmo? Talvez em mural de biblioteca ou casa de esquina reformada ou um ponto de ônibus, do lado da sétima árvore na rua Blumenau.
Pobre prego... o prego não aguentava mais.

E, seguindo as guias de Machado, coloco agora que um amigo, ao ler estas linhas, disse: "Também eu tenho sido prego..." Mas não ouço o resto. Fiquei com dó do prego...
E a madeira, tenho certeza, está triste também.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A Noite Escura da Alma

O poeta espanhol e Santo Católico João da Cruz (Juan de Yepez Alvarez, 1542-1591) escreveu um poema entitulado "La noche oscura del alma", no qual retrata o caminho árduo da alma ao se desligar do corpo terreno para unir-se ao Criador. O caminho é difícil e a jornada dá-se de noite.
Há quem veja em seu trabalho não somente o relato de um homem indo ao encontro de seu Deus, mas também de qualquer alma que ame ansiando pelo momento em que finalmente encontrará aquela outra alma que ama.

Versão musicada pela canadense Loreenna McKennitt, inspirada no poema citado:



The Dark Night of the Soul

Upon a darkened night
Em uma noite escura
the flame of love was burning in my breast
a chama do amor queimava em meu peito
And by a lantern bright
E pelo lume de uma lanterna
I fled my house while all in quiet rest
Deixei minha casa enquanto tudo descansava quieto.

Shrouded by the night
Oculta pela noite
And by the secret stair I quickly fled
E pela escada secreta eu fugi velozmente
The veil concealed my eyes
O véu escondia meus olhos
while all within lay quiet as the dead
Enquanto tudo que me era interno estava quieto como os mortos.

CHORUS
Oh night thou was my guide
Ó noite, fostes minha guia
of night more loving than the rising sun
da noite mais amável que o sol nascente,
Oh night that joined the lover
Ó noite que juntaste o amante
to the beloved one
com aquele que é amado
transforming each of them into the other
transformando cada um no outro.

Upon that misty night
Naquela noite nebulosa,
in secrecy, beyond such mortal sight
em segredo, além da visão mortal,
Without a guide or light
Sem guia ou luz
than that which burned so deeply in my heart
que não aquela que queimava tanto em meu coração,
That fire t'was led me on
Aquele fogo me levou adiante,
and shone more bright than of the midday sun
e brilhava mais do que o sol do meio-dia
To where he waited still
Para onde ele esperava quieto
it was a place where no one else could come
Era um lugar onde ninguém mais poderia chegar.

CHORUS

Within my pounding heart
E meu coração batia,
which kept itself entirely for him
guardava-se inteiramente para ele
He fell into his sleep
ele adormeceu
beneath the cedars all my love I gave
sob os cedros entreguei todo o meu amor
From o'er the fortress walls
Por sobre os muros da fortaleza
the wind would his hair against his brow
o vendo sopraria seu cabelo contra sua face,
And with its smoothest hand
E com a mão mais gentil,
caressed my every sense it would allow
agradou plenamente cada sentido meu.

CHORUS

I lost myself to him
Esqueci-me de mim
and laid my face upon my lover's breast
e reclinei minha face no peito de meu amante
And care and grief grew dim
E a preocupação e a dor diminuíram
as in the morning's mist became the light
como na neblina matutina fez-se a luz.
There they dimmed amongst the lilies fair
Lá elas se esvaíram entre os lírios claros
there they dimmed amongst the lilies fair
Lá elas se esvaíram entre os lírios claros
there they dimmed amongst the lilies fair
Lá elas se esvaíram entre os lírios claros



TEXTO ORIGINAL DE SÃO JOÃO DA CRUZ:
 La noche oscura      
Canciones del alma que se goza de haber llegado al
alto estado de la perfección, que es la unión con Dios,
por el camino de la negación espiritual.

En una noche oscura,
con ansias en amores inflamada,
(¡oh dichosa ventura!)
salí sin ser notada,
estando ya mi casa sosegada.

A oscuras y segura,
por la secreta escala disfrazada,
(¡oh dichosa ventura!)
a oscuras y en celada,
estando ya mi casa sosegada.

En la noche dichosa,
en secreto, que nadie me veía,
ni yo miraba cosa,
sin otra luz ni guía
sino la que en el corazón ardía.

Aquésta me guïaba
más cierta que la luz del mediodía,
adonde me esperaba
quien yo bien me sabía,
en parte donde nadie parecía.

¡Oh noche que me guiaste!,
¡oh noche amable más que el alborada!,
¡oh noche que juntaste amado con amada,
amada en el amado transformada!

En mi pecho florido,
que entero para él solo se guardaba,
allí quedó dormido,
y yo le regalaba,
y el ventalle de cedros aire daba.

El aire de la almena,
cuando yo sus cabellos esparcía,
con su mano serena en mi cuello hería,
y todos mis sentidos suspendía.

Quedéme y olvidéme,
el rostro recliné sobre el amado,
cesó todo, y dejéme,
dejando mi cuidado
entre las azucenas olvidado.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Aparição, Aproximação

A vida é o fantasma.
Há nas horas incultas de uma tarde que se desenrola um pouco de ferrugem. Algumas correntes deixam-se roer.
Algumas correntes, apenas, e nada mais.
Sempre que há noite nuns corredores mais que vazios, ululam os fantasmas enegrecidos, cobertos de pó e de mortalha.
Por uma mortalha e pó, apenas, e nenhum choro a mais.
E quando diz-se que se ouvem os gemidos dos mortos chorando suas alegrias na casa agora vazia, sabe-se é que assombram aquilo que mais amam.
Que amam, apenas, e nada mais.
E eis que um dia os vivos voltam e abrem as janelas outrora esquecidas trancadas, e num regaço mais sutil que um abraço, um vivo vive outra vez, o morto morre de vez.
Morre, mais uma vez.
E nada mais.

Ungentle

And suddenly I came to see -
Your tears made a lake of me.
Though the sky was bitter
'nd the sad mother lost her litter,

Some cruel bird the eggs hatched
And there was no sunlight ashed:
The winds had my water warped
Although my core was yet stalled.

So through all around was turmoil,
My flow was as crippled as dry soil,
Yet there was no mourning for a lake:
Only the gift of the cozy earthquake.

God bless the swelling matter,
for it shakes things into better.
But tearing tears come, wax, wane
and doom the spin of the hurricane.

The stream that once jolted to afar
Finds itself locked, cointained by bar,
Crystal tear bars to condem and lock
As fiercely as the ever-moving clock.

For everything time goes uncaring,
even for a handicapped soul, erring,
And its hacking pointers do slash me!
While I, weep-bound, can't run free!

Should I choose it, then, I would say:
Please, my douser, weep not this day,
Weep me not into any form today,
for I want to be myself to flow away.

sábado, 1 de outubro de 2011

Saudade, Almeida Júnior



Porque não se escreve apenas com tinta preta...


E para os puristas, estive cara a cara com esta pintura (coisa de 30 cm de distância) na Pinacoteca do Estado em São Paulo.


Saudade em inglês é bliss em português.
"Chuva.
Sem você.
Tristeza." -- E Victor Hugo escreveu "Melancolia é a felicidade de se estar triste."