quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

2009 já se vai... um brinde!... ao sarcasmo.

Bem, meu amado blog, feliz ano novo para voce. Queiram os Deuses que eu possa fazer outro brinde a voce em 2010.

Como eu adoro ser o que sou, ainda que eu seja humano (vai dizer que não é melhor ser um cachorro ou um gato ou um pardal?), é bem hora de criar vergonha na cara e mostrar um pouco de ingratidão.
Além disso, já faz tempo que não manifesto meu pessimismo. Em parte é porque vivo querendo, praticamente ordenando sutilmente, que todos ao meu redor pensem positivo. E é bom que estejam pensando mesmo.
Meu leitor ideal é cruel e me odeia. Isso me faz escrever coisas que não me deixam em xeque. Mas dane-se (sorrindo), afinal o que está inundando minhas veias nesse momento não é a comoção caridosa do ano-novo, mas uma imensa quantidade de sarcasmo e adrenalina degradada, o que resulta em quê?
SECURA IRÔNICA

Como não bebo, só me resta escrever. Porre de escrita é pior que porre de cuba com Velho Barreiro. Mesmo hoje, que é dia de cidra (alguém fica bêbado com cidra, pergunto-me) não estou procurando nada no álcool. Primeiro porque sou daquelas pessoas caretas epicuristas que preferem viver a vida lucidamente em cada momento (aquelas mesmas que quando bebem transformam-se completamente) e também porque sou do tipo que enche um texto com interrupções (entre parênteses). O que me leva a escrever, contudo, não é a SECURA IRÔNICA, ela corre paralela. O que me leva a digitar algo a essa hora em um blog (ainda) pouco lido é a vontade de fazer um brinde à ingratidão que faz parte do ser humano, ignorar está fora de questão.

Assim sendo, o que talvez não seja ingratidão mostra-se mais como um desabafo pessimístico das coisas que, somadas a algumas coisas alegres, resultam no que chamamos popularmente de "vida".
UM BRINDE, POIS!
Aos ônibus que atrasam e aos que saem mais cedo;
Aos clientes que não andam com troco e jogam pragas em voce e sua carreira;
Aos cidadãos que confessam que adorariam a corrupção se pudessem praticá-la;
Aos casais românticos que exprimem seu amor entre os solteiros encalhados;
Aos solteiros encalhados que exprimem seu mau-humor entre os casais românticos;
Aos joinvilleses que são tão (SUPRESSED) bairristas
Aos catarinenses que são tão (XXX) trabalhadores
Aos brasileiros que são tão (estrelinha) alegres
Aos estudantes de Letras
Aos paulistas ingratos que criticam Joinville SC
Aos pagãos que se preocupam mais com feitiços do que em viver
Aos cristãos que parecem bem cristãos
Aos professores que (não merecem que eu comente nada porque um dia vou ser um professor também).
Aos jornalistas, dos quais tentarei me abster formalmente, a começar por esta linha aqui onde a pedra fundamental do meu texto está cravada com muita amargura enraivecida.

Mas sobretudo um brinde a nós, seres humanos, bichos lunáticos que estão destruindo tudo: ambiente equilibrado, instituições sociais, relações, pessoas, conceitos. Um brinde a nós, que não fazemos quase nada certo.
A nós, que nascemos insanos.

E que os Deuses nos abençoem! E nos protejam de nós mesmos!

Feliz ano novo. Feliz 2010. Boa sorte, 2010.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Aritimética Indiossincrática (odeie nomes assim)

P.A.:
ai+ai = Voce sofre mais
ia+ia = Voce é moça rica
ai+ia = Voce cuida da moça rica
ia+ai = Voce quer saber como estou?

P.G.:
i+moral = voce não presta
a+moral = voce sabe que ninguém presta
i+gnus = fogo imoral
a+gnus = cordeiro amoral

Raiz Quadrada:
i = um marginal ladravaz
a = um sociopata desiludido
.........................................
uma aula de matemática para literatos. Ou não!

É, tomara que só pensem que eu bebo e nada mais...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

::: A Cabeça

Tênue Inspiração a partir da encenação de "Mythistorema 3", de Giorgos Seferiades, recitada na "Alegoria" das Olimpíadas de 2004, em Atenas.


A Cabeça


É involuntário. Quando acordo, olho para minha escrivaninha. Ela está lá, de olhos fechados. Ainda é de mármore, ainda é fria.

É uma cabeça, não tem expressão. Às vezes, não tem olhos nem lábios, é lisa e tem uma única protuberância (o nariz). Outras vezes é completa, é inteira, parece a cabeça de uma Deusa grega que dorme após matar as filhas de Niobe, e não sei de qual das duas formas tenho mais medo, da clássica ou da abstrata.

Eu tenho que levantar e carregá-la pelo resto do dia. Por onde quer que eu vá – trabalho, casa, rua, bar – ela está comigo. Eu carrego e a sinto pesada. Eu a levo e a sinto gelada. É um peso que carrego, sim, uma cabeça que não posso largar, uma cabeça que faz minha cabeça doer.

Quando vou dormir, não a vejo mais. Ela não está em minhas mãos. Ela sumiu. Juro pela última vez que não vou olhar para nada quando acordar.

Mas eu acordo.

Mas eu olho.

Ela está lá.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

::: Enquanto isso

Há quem chame de lixo cultural, mas adoro o Pretinho Básico. (http://wp.clicrbs.com.br/pretinhobasico/). Para o lixo intelectual que acredita em lixo cultural , favor ignorar.

Hoje escutei na rádio uma das convidadas do programa, a ilustríssima Rodaika, manifestar seu terror diante da degeneração intelectual dos adolecentes modernos. Meu psicológico tipo Peter-Pan ainda me inclui nas camadas adolecentes, mesmo sendo maior de idade e etc.
Em suma, a Rodaika pontuou como os jovens vivem cada vez mais para o mundo virtual/irreal do computador e cada vez menos no mundo real. A maioria dos jovens plugados, segundo a crença dela, usa a internet para relacionamentos (para o Orkut e além), e mesmo os que usam para informação estão se degenerando. Isso porque ela disse (e é algo com que agora concordo) que a pesquisa de um jovem hoje é diferente da pesquisa de alguém que já está formado e inserido no mercado de trabalho. O jovem hoje não se preocupa com os estudos, com a carreira, com as necessiades que o mercado de trabalho exigirá dele, com seu futuro. O tempo que passa no mundo virtual é do ponto de vista prático muitas vezes inútil (embora por outro lado eu acredite que conhecimento nunca é demais. Falar de conhecimento sim.), pois esse jovem não estará pronto, maduro o suficiente, quando tiver que simplesmente viver.

A chamada geração Y que passou por algumas revistas e está em pauta agora na psicologia do trabalho é qualificada como egoísta, do tipo que não se adequa às necessidades exteriores, ao invés disso busca um lugar no qual sinta que o sentido de estar ali é visível. Bem, sou anti-tendências-de-revistas-e-afins, mas se o pensamento das gerações para o trabalho e sociedade está realmente se encaminhando para esse lugar é uma boa oportunidade de sentar e discutir até que ponto o avanço tecnológico é realmente positivo (coisa que não fizeram com coragem quando estouraram a bomba atômica lá no Japão).
O avanço tecnológico e o uso da internet voltados para o consumo são desperdício de vida. Se voltados para benefícios próprios, que muitas vezes não voltam para a sociedade, são vaidade dos sábios de muita teoria e pouca prática.

Há diferença entre usar as oportunidades hoje após tomar as decisões da vida ou usar antes em detrimento da tomada dessas decisões. Vai que isso resulta em uma leva de pessoas imaturas e inconsequentes que não sabem resolver problemas nem planejar o futuro? Do jeito que o mundo está, é capaz de piorar.
Claro, graças aos Deuses não somos a mesma geração pós-guerra, não cultuamos a cultura hippie e nem bipolarizamos o mundo. Mas se o passado serve para alguma coisa, é para saber o que não deve ser feito.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

::: Antiga Questão

Dilemas modernos são mais velhos do que pensamos. Nada é realmente novo, arrisco dizer.

Casados Njord e Skadi(1), o deus do Mar e a deusa Caçadora, Skadi decide onde morariam(2).
Skadi queria que vivessem na antiga casa de seu pai, nas montanhas cobertas de neve. Njord desejava morar perto do mar(3). Combinaram que passariam nove noites nas montanhas e três noites perto do mar (4).
Ao voltar das montanhas para o mar, Njord diz (5):
"Odiosas são para mim as montanhas.
Por lá não fiquei durante muito,
apenas nove noites.
Os uivos dos lobos são feios
depois do canto dos cisnes"

Ao que Skadi responde (6):
"Não pude dormir
nas praias do mar
por causa do grito do pássaro,
a gaivota que me acorda
quando do alto mar
ela retorna" (7)

1- O casamento, essa bênção ou maldição, existe há muito e não só entre os mortais.
2- Quem casa quer casa.
3- Montanha ou praia? E dizem que "ovo ou galinha" é a pergunta que não quer calar.
4- Quem saiu ganhando?
5- Somente um Deus fala destemido para sua esposa. Homens mortais devem manter silêncio para evitar a guerra, para isso que nasceram com pescoço e habilidades vocais mínimas (balance a cabeça e só diga "humhum" ou "hãhã")
6- Mulheres sem resposta? Se deixar uma assim, saboreie esse momento de triunfo, pois as alegrias da vitória se esvaem depressa.
7- Parece pouco comparar sono perdido de três noites por tristeza de nove noites, mas antes um homem com saudades do que uma mulher que dormiu pouco.

A sabedoria divina e os mitos estão aí para ajudar os mortais que usam os olhos para ver. E os dedos, hoje, para digitar.


















Texto original nas Eddas Poéticas, 23. A tradução aqui foi livre. Gravuras por W.G. Collingwood